SOCIOLOGIA – A SOCIOLOGIA COMO PRODUTO HISTÓRICO

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 A SOCIOLOGIA COMO PRODUTO HISTÓRICO

In: LEMOS FILHO, Arnaldo et alli. Sociologia geral e do Direito. 2 ed. Campinas: Alínea

                Vamos  ver,  neste texto,  como  que  surgiu  a ciência da sociedade, denominada Sociologia. O nosso raciocínio é o seguinte: se a Sociologia é uma ciência e  se  ciência  é  conhecimento,  sabendo  que  todo  conhecimento  é  um  produto  histórico,  concluímos  que  a Sociologia é um produto histórico. O objetivo deste capítulo é saber como que, num determinado momento histórico,  surgiu  a  Sociologia,  ou  seja,  queremos  saber  quais  os  fatores  históricos  que  propiciaram  o nascimento da ciência da sociedade.

               É costume dizer que a Sociologia é a ciência da crise”. Não sendo obra de um único pensador, mas o resultado de circunstâncias históricas e contribuições intelectuais, ela surge, no contexto do conhecimento científico, como um  corpo de  ideias  que se preocupou e ainda se preocupa, com o processo de formação e desenvolvimento do sistema capitalista.

               Como veremos, sua origem mescla-se com  os  progressos  sociais  e  econômicos  que  há  muito  vinham  se  constituindo  na  Europa,  no  campo  da ciência  e  da  tecnologia,  da  organização  política,  dos  meios  e  processos  de  trabalho,  das  formas  de propriedade da terra e dos instrumentos de produção, da distribuição do poder e da riqueza entre as classes, das tendências à secularização e racionalização que se mostravam em todas as áreas das atividades humanas.

Vamos  fazer  um  primeiro  corte  histórico:  SÉCULO  XVIII

               Este  século  foi  palco  de  duas  grandes revoluções:  a  Revolução  Industrial  e  a  Revolução  Francesa.  As  transformações  ocorridas,  na  estrutura econômica com a Revolução Industrial e na estrutura política com a Revolução Francesa, trouxeram crises e desordens na organização da sociedade, o que levou alguns pensadores a concentrarem suas reflexões  sobre as suas consequências.

Um  segundo  corte  histórico  é  mais  amplo:  SÉCULOS  XVI,  XVII  E  XVIII 

               Podemos  considerar  este período como um momento de grandes transformações sociais, políticas e econômicas, o que significa um período de transição de uma perspectiva filosófica para uma perspectiva científica da sociedade.

A FILOSOFIA SOCIAL: Idade Antiga e Idade Média

               Na  Antiguidade  e  durante  a  Idade  Média,  as  tentativas  de  explicações  da  sociedade  foram  muito influenciadas pela filosofia e pela religião que propunham normas para melhorar a sociedade de acordo com seus princípios. 

               A preocupação dos pensadores, em relação aos fenômenos sociais, nestes períodos, era mais filosófica do que cientifica. Embora sua atenção fosse despertada pelas causas econômicas e políticas que abalavam  continuamente  as  estruturas  sociais  de  seu  tempo,  em  lugar  de  tomarem  uma  atitude  objetiva diante dos problemas apresentados, levados por razão de ordem prática, preocupavam-se mais em descobrir os remédios que trouxessem uma solução para as crises sociais.

               Os estudos a respeito da vida social tinham sempre  por  objetivo  propor  formas  ideais  de  organização  da  sociedade,  mais  do  que  lhe  compreender  a organização  real.  Assumiam,  portanto,  um  ponto  de  vista  normativo,  no  sentido  de  buscarem  estabelecer normas  ou  regras  para  a  vida  social  e  finalista,  no  sentido  de  proporem  como  finalidade  da  vida  social  a realização desta organização social. 

               Florestan Fernandes  lembra que mesmo as filosofias greco-romanas e medievais que deram relevo especial  à reflexão sistemática  sobre a  natureza  humana e a organização das sociedades,  contrastam  singularmente  com  a  explicação  cientifica. É  que  “elas  tinham, com efeito, por objetivo, não explicar a sociedades tais quais elas foram, mas indagar o que as sociedades devem ser, como elas devem organizar-se para serem tão perfeitas quanto possível (Durkheim, 1914).

               NA  ANTIGUIDADE,  as  primeiras  tentativas  de  estudo  sistemático,  feitas  sobre  a  sociedade  humana, começaram  com  os  filósofos  gregos  Platão  (427-347  a.c.),  em  seu  livro  República  e  Aristóteles  (384-322 a.c.), com a obra Política.

               É de  Aristóteles  a afirmação de que O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL (zoon politikon). Estes estudos eram fragmentários e se limitavam a reflexões esparsas a respeito de algumas questões sociais, nunca reunidos, entretanto, num sistema coerente.

               O fator político sob o domínio de um interesse puramente ético tinha prioridade sobre o fator social. Isto significava que os pensadores antigos, não tomando a própria sociedade como objeto específico de conhecimento, aprenderam como objeto essencial de estudo, uma parte da vida social, como a política ou a moral, mas numa perspectiva normativa e finalista.

               NA IDADE MEDIA, a Igreja exerceu ampla influência, no plano cultural, traçando um quadro intelectual em que  a  fé  cristã era a base de tudo. De acordo com a doutrina católica, a  fé representava a ponte mais elevada  das  verdades  reveladas.  Assim  toda  investigação  filosófica  ou  cientifica  não  poderia,  de  modo algum, contrariar as verdades estabelecidas pela Igreja Católica. Segundo esta orientação, os filósofos não precisavam se dedicar à busca da verdade, pois ela já havia sido revelada por Deus aos homens. Restava lhes, apenas, demonstrar racionalmente as verdades da fé.  Santo  Agostinho  (354-430), por exemplo, na sua obra  A  Cidade  de  Deus  achava  que  os  homens  viviam  na  cidade  onde  reinava  o  pecado  e  que  deveriam caminhar para a cidade da graça, a cidade de Deus. Santo Tomás de Aquino (1227-1274) estudou as relações do homem com  Deus, elaborando a filosofia cristã, a chamada  filosofia escolástica, em  sua obra A Suma Teológica.

A TRANSIÇÃO:- SÉCULO XVI, XVII, XVIII.

               A  libertação  do  pensamento,  em  relação  ao  dogmatismo  católico,  iniciou-se  já  no  final  da  Idade Media,  mas  se  efetivou  realmente  no  período  agitado  do  Renascimento,  quando  se  abriram  novas perspectivas ao saber humano.

               A influência teológica, que não permitia ver as coisas senão à luz dominante da salvação eterna, deu lugar a uma perspectiva muito mais independente que  favorecia a livre discussão de questões do ponto de vista racional. Foi sendo elaborado um novo tipo de conhecimento, caracterizado por uma objetividade e realismo que marcaram a separação nítida do pensamento do passado, modificação tão claramente  definida  que  poderia  dizer  que  um  novo  estágio  se  iniciava  na  explicação  dos  fenômenos  da natureza e, consequentemente, dos problemas sociais e humanos.

               A  ciência  vai,  aos  poucos,  substituindo  a  filosofia,  na  explicação  dos  fenômenos  da  natureza, constituindo-se  as  denominadas  ciências  naturais”.  Estas  se  desprendem  do  tronco  comum  que  era  a filosofia, conseguindo delimitar seu campo de estudo com objetos específicos.

               O período dos séculos XVI, XVII E XVIII, além de ser o momento do desenvolvimento das ciências naturais, deu oportunidade, devido a vários fatores, para que no século XIX, surgisse a Sociologia.

               Para  Florestan  Fernandes,  três  series  de  convergências  parecem  responsáveis  pela  lenta,  mas progressiva  substituição  da  concepção  normativa  e  especulativa  por  uma  representação  positiva  da  vida social: fatores de natureza sociocultural, fatores de natureza intelectual e fatores decorrentes da dinâmica do chamado “sistema de ciências” (Fernandes:1971).

               Fatores socioculturais  –  Uma série de mudanças ocorridas na vida política e econômica da Europa, tais  como  a  ascensão  da  burguesia,  a  formação  do  Estado  Nacional,  a  Descoberta  do  Novo  Mundo,  a Revolução  Comercial,  a  Reforma  Protestante,  culminando,  no  século  XVIII,  com  a  Revolução  Industrial, contribuiu para modificar a mentalidade do homem europeu, significando a passagem do feudalismo para o capitalismo.

1 – A ASCENSÃO DA BURGUESIA rompeu com a formação social da Idade Media, constituída de sacerdotes, guerreiros e servos, apresentando um novo quadro social, com a emergência de uma nova classe social.

2 – A FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL fez com que se quebrasse o poder dos senhores feudais bem como trouxe conflito com a Igreja Católica[1].

3 – A  DESCOBERTA DO NOVO MUNDO trouxe uma abertura para uma  nova realidade, diferente do   mundo europeu, com novos modos de pensar e de organização social.

4 – A REVOLUÇÃO COMERCIAL permitiu a formação de grandes potências nacionais e o desenvolvimento do mercantilismo.

5 – A REFORMA PROTESTANTE quebrou a unidade católica do ocidente, rompendo com a concepção passiva do homem, entregue unicamente os desígnios divinos.

6 – MAS FOI A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, no século XVIII, que definiu o desaparecimento da sociedade feudal e  a  consolidação  da  sociedade  capitalista.  Este  processo,  iniciado  na  Inglaterra,  nos  meados  deste  século, provocou  transformações  profundas  na  sociedade  européia,  tornando  problemática  a  própria  sociedade.

               A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL trouxe mudanças na ordem tecnológica, pelo emprego intensivo e extensivo de um novo modo de produção com  o  uso  da  máquina;  na  ordem  econômica,  pela  concentração  de  capitais,  constituição  de  grandes empresas  provocando  acumulação  de  riquezas;  e  na  ordem  social,  pela  intensificação  do  êxodo  rural  e consequente  processo  de  urbanização,  desintegração  de  instituições  e  costumes,  e  introdução  de  novas formas de organização de vida social e, sobretudo, a emergência e a formação de um proletariado de massas com sua especifica consciência de classe (Lemos : 1999)

               Fatores Intelectuais  –  Neste período –  séculos XVI  –  XVII, e XVIII, houve também mudanças nas formas de pensar, nos modos de conhecer a natureza e a sociedade.

               Já  no  final  da  Idade  Média,  houve  o  florescimento  de  utopias,  descrições  de  sociedades  ideais.

                                            Thomas  Morus,  (1478-1535),  em  A  Utopia,  descreve  uma  ilha  onde  vive  uma  comunidade  ideal,  com harmonia, equilíbrio e virtude[2].

                                            Outros autores,  Jean Bodin  (1530-1596), com a República,  Francis Bacon (1561-1626), com a Nova Atlantis e  Campanella  (1568-1634), com a Cidade do Sol apresentaram os seus projetos de uma nova sociedade.

                                            Campanella, mago e astrólogo, é considerado a última grande figura do Renascimento. Tinha como objetivo empreender uma verdadeira reforma universal. No seu livro, A Cidade do Sol, apresenta suas perspectivas e aspirações em relação à reforma do mundo, numa descrição da   cidade ideal, recheada de misticismo, magia e utopia.

               O  RENASCIMENTO  é  o  início  de  um  movimento  cultural  que  vai  marcar  as  transformações  da mentalidade social  europeia. Inspirou-se no Humanismo, movimento de intelectuais que defendia o estudo da  cultura  greco-romana  e  o  retorno  a  seus  ideais  de  exaltação  do  homem. 

               O  conhecimento  deixa  de  ser revelado, como resultado de uma atividade de contemplação e  fé, para  voltar a ser o que era antes, entre gregos e romanos, o resultado de uma bem conduzida atividade  mental.

               Em  lugar  de  uma  supervalorização  da  fé  cristã,  do  TEOCENTRISMO  (Deus  como  centro),  houve  uma tendência  social  ANTROPOCÊNTRICA  (homem  como  centro),  valorizando  a  obra  humana.  Isso  levou  ao desenvolvimento de uma atividade laica (não religiosa), otimista em relação à capacidade da razão intervir no mundo, organizando a sociedade e aperfeiçoando a vida humana.

               Mas o emprego sistemático da razão, como consequência  de sua autonomia diante da fé, possibilitou a formulação de uma nova atitude intelectual, o racionalismo, não só em relação aos fenômenos da natureza, mas também em relação aos fenômenos humanos e sociais.

               Algumas  contribuições  foram  básicas:

 Nicolau  Maquiavel  (1469-1527),  por  exemplo,  iniciou  uma nova fase do pensamento político ao abandonar o enfoque ético ou religioso e procurar uma abordagem mais realista da política. O centro de suas reflexões é o exercício do poder político pelo Estado. Em seu livro mais célebre, O Príncipe, ele desenvolve um realismo político, identificando as causas do   sucesso ou do fracasso na manutenção do poder pelo governante. Para ele, as razões políticas estão completamente desvinculadas das razões  morais.  Assim, o recurso à  força para conter a  maldade  humana,  faz parte da  lógica do poder político.

Francis Bacon, apresenta um novo método de conhecimento, baseado na experimentação, que tomava o lugar do conhecimento teológico. É considerado um dos fundadores do método indutivo de investigação cientifica, afirmando que o cientista deve se libertar daquilo  que ele chamava de “ídolos”, isto é, as falsas noções, os preconceitos, os maus hábitos mentais. 

Thomas Hobbes  (1588-1679), com o Leviatã, sustenta a necessidade de um poder absoluto que mantenha os homens em sociedade e impeça que eles se destruam mutuamente.

Mas foi, sobretudo DESCARTES (1596-1650), com o método da dúvida, quem abalou, profundamente, o edifício do conhecimento estabelecido. Afirmava que para conhecermos a verdade é preciso, inicialmente, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida,  questionando tudo para criteriosamente analisarmos se existe algo na realidade de que possamos ter certeza. Isto vinha de encontro a todo pensamento medieval, baseado na certeza da fé. Para Descartes, a dúvida permitiria a concluir que eu penso e se eu penso, eu existo (se  eu  duvido,  eu  penso;  penso,  logo  existo)[3]A  única  verdade  totalmente  livre  da  dúvida  é  que  meus pensamentos  existem  e  a  existência  desses  pensamentos  se  confunde  com  a  essência  da  minha  própria existência, como ser pensante.

De um modo especial, a Filosofia da História foi um fator decisivo na formação das Ciências Sociais. Foram os filósofos da história que tiveram a responsabilidade por uma nova concepção de sociedade como algo  mais do que uma sociedade política ou o Estado, possibilitando a distinção entre Estado e sociedade civil. 

A  ideia  geral  de  progresso,  que  ajudaram  a  formular,  influiu  profundamente  na concepção  que  o  homem  tinha  da  história  e  da  sociedade.

Vico  (1668/1774),  em  “Os  princípios  de  uma Ciência Nova”, afirmava que é o homem que produz a história e que a sociedade poderia ser compreendida porque  constitui  obra  dos  próprios  indivíduos[4]

Adam  Ferguson (1723/1816),  em  Ensaio  Histórico  sobre  a Sociedade Civil, discutiu a natureza da sociedade e de suas instituições.

Este interesse pela História e pelo desenvolvimento foi despertado pela rapidez e profundidade das transformações  sociais  e  econômicas  e  também  pelo  contraste  das  culturas  que  as  viagens  dos descobrimentos revelaram. O acúmulo de informações sobre os costumes e instituições “exóticas” dos povos não europeus colocou a nu a extraordinária variedade das formas de organização social.

AO  RENASCIMENTO  SUCEDEU  O  ILUMINISMO. 

               O  desenvolvimento  do  capitalismo,  nos  séculos  XVII  e XVIII,  foi  acompanhado  pela  crescente  ascensão  social  da  burguesia  e  sua  tomada  de  consciência  como classe social. O despertar da Revolução Industrial e o sucesso das ciências naturais valorizaram também a ideia  de  progresso.  Na  França,  diante  da  situação  social  do  país,  resultado  das  contradições  das  classes sociais, os filósofos pretendiam não apenas transformar as formas de pensamento, mas a própria sociedade.

Afirmavam que, à luz da razão, é possível modificar a estrutura da velha sociedade feudal. Aos poucos, foi se  desenvolvendo  um  pensamento  que  culminaria  no  movimento  cultural  do  século  XVIII,  denominado Iluminismo,  Ilustração  ou  Filosofia  das  Luzes. 

Condorcet  (1772-1794)  queria  aplicar  os  métodos matemáticos ao estudo dos fenômenos sociais.

Montesquieu (1689-1755), em O Espírito das Leis, defendia a separação dos poderes do Estado, em Legislativo, Executivo e Judiciário como forma de evitar abusos dos governantes e proteger as liberdades individuais[5]. Definia pela primeira vez a  ideia  geral de lei (uma relação necessária que decorre da natureza das coisas) e afirmava que os fenômenos políticos estavam  sujeitos às leis naturais, invariáveis e necessárias, tanto quanto os fenômenos físicos. 

Rousseau  (1712-1778), em suas teorias de O Contrato Social, expunha a tese de que o soberano deve conduzir o Estado segundo a vontade geral  de  seu  povo,  sempre  tendo  em  vista  o  atendimento  do  bem  comum[6].  Sua  obra  teve  uma  influência decisiva  na  formação  da  democracia  burguesa  e,  consequentemente,  na  mudança  das  instituições  sociais.

Adam Smith  (1723-1790) que criticou o  mercantilismo,  baseado na intervenção do Estado na vida econômica. Para ele, a economia deveria ser dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura de mercado. O trabalho, em geral, representava a verdadeira ponte de riqueza para as nações, devendo ser conduzido pela livre iniciativa dos particulares[7].

As  teorias  sociais  do  Iluminismo,  no  século  XVIII,  foram  o  início  do  pensar  científico  sobre  a sociedade.  Lançaram  as  bases  para  o  movimento  político  pela  legitimação  do  poder,  fosse  de  caráter monárquico,  como  na  Revolução  Gloriosa  da  Inglaterra  (1689),  fosse  de  caráter  republicano,  como  na Revolução Francesa (1789).

O sistema de ciências  –  A terceira  série de  fatores, também decisiva para a  formação das  ciências sociais,  estava  na  própria  dinâmica  do  “sistema  de  ciências”.  A  evolução  das  ciências  estava  diretamente ligada à  necessidade de controlar a natureza e compreendê-la. As crises provocadas pelos  acontecimentos sociais do século XVIII provocaram uma convicção de que os métodos das ciências da natureza deviam e podiam ser estendidos aos estudos das questões humanas e sociais e que os fenômenos sociais podiam ser classificados e medidos. No mundo moderno, o conhecimento científico se tornou o sistema  dominante de concepção do mundo e, aos poucos, os fenômenos sociais também caíram sobre o seu domínio.

Estas  três  ordens  de  fatores  nos  mostram  que,  antes,  as  formas  estabelecidas  da  vida  social  se revestiam de caráter sagrado: era como se o próprio Deus tivesse estabelecido as normas que deveriam reger as  ações  humanas,  o  que  tornava  estas  normas,  de  certo  modo,  intocáveis.  No  mundo  moderno,  uma exigência geral de eficiência, no sentido de encontrar soluções para as crises e problemas provocados pelos novos acontecimentos, fez com que muitas formas de organização social, até então sagradas, passassem a ser vistas como produto histórico e sujeitas a transformações. Deste modo, a validade das normas e das formas de  organização  social,  estabelecidas,  deixa  de  ser  vista  como  algo  de  absoluto  e  indiscutível.

Tal  atitude secularizada,  isto é, alheia às coisas sagradas,  favoreceu a difusão de um espírito crítico e de objetividade diante dos fenômenos sociais (Lemos, 1999).

1. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A NOVA ORDEM SOCIAL

“A Revolução Industrial, realmente, é o marco de uma nova era da história da humanidade, pois deu início  a  uma  etapa  de  acumulação  crescente  de  população,  bens  e  serviços,  em  caráter  permanente  e sistemático sem precedente. È inseparável do desenvolvimento por ser, fundamentalmente, uma revolução produtiva: uma revolução na capacidade de produção e de acumulação do homem.

Não se trata, apenas, do crescimento da atividade fabril. A Revolução Industrial é fenômeno muito mais  amplo,  constitui  uma  autêntica  revolução  social  que  se  manifesta  por  transformações  profundas  da estrutura institucional, cultural, política e social.

A excepcional expansão experimentada pelas economias industriais, a partir da segunda metade do século XIX, tem seus antecedentes mais próximos no período de gestação e triunfo da Revolução Industrial que pode ser fixado, arbitrariamente, nos cem anos que vão dos meados do século XVIII até igual período do século XIX.

Um dos elementos essenciais  na gestação das condições que possibilitaram a Revolução Industrial foi a acumulação de recursos financeiros proporcionada pela intensificação do comércio internacional e pela política  mercantilista  inglesa  de  épocas  anteriores[8].  O  enriquecimento  e  o  fortalecimento  dos  grandes comerciantes e das empresas mercantis  significou o advento de novo talento empresarial e de importantes recursos de capital na atividade manufatureira e na agricultura.

O capitalista comercial, originado na fase mercantilista anterior, foi levado a introduzir modificações substanciais   na  atividade  manufatureira,  ainda  de  natureza  artesanal,  doméstica  e  marcadamente  rural:  o capitalista-comerciante   reorganiza  o  trabalho  individual  ou  familiar  que  prevalecia  nas  oficinas  ( os Workshops), onde reúne grupo importante de artesãos a que fornece  matéria prima, energia mecânica, local de trabalho e organização de vendas.

Do ponto de vista da estrutura produtora,  A Revolução Industrial acelerou a profunda transformação da atividade agrícola, principalmente pela introdução de novas técnicas que intensificaram o uso do solo e incorporaram  novos  recursos  naturais  ao  cultivo.  Como  consequência,  a  produtividade  inglesa  aumentou substancialmente entre meados do século XVII e fins do século XVIII.

A Revolução Industrial traduz, também, em profunda transformação da estrutura da sociedade. Por exemplo,  na  reordenação  da  sociedade  rural,  com  a  destruição  sistemática  da  servidão  e  da  organização rural,  centralizada  na  vila  e  na  aldeia  camponesa  e  a  consequente  emigração  da  população  rural  para  os centros urbanos.  A transmutação da atividade rural em manufatureira e, por último, em atividade fabril, deu margem,  também,  a  profundas  reformas  que   conduziram  à  criação  do  proletário  urbano  e  do  empresário capitalista: o primeiro, assalariado e sem acesso aos meios de produção: o segundo, com a função precípua de organizar a atividade produtiva na empresa.

A  Revolução  Industrial  implicou,  por  isso  mesmo,  o  fortalecimento  e  a  ampliação  de  uma  nova classe  social  que  vinha  sendo  configurada  em  períodos  anteriores  sobre  a  base  da  atividade  comercial  e financeira;  classe  esta  que  passou  a  exercer  consideravelmente   influência  na  criação  das  condições institucionais e jurídicas indispensáveis ao seu próprio fortalecimento e expansão. 

A  Revolução  Francesa  é  o  fenômeno  histórico  que  reflete  com  mais  perfeição  as  aspirações  e exigências  da  nova  classe  burguesa  em  consolidação.  De  fato,  a  Revolução  Francesa  e  a  Revolução Industrial  que  ocorre  paralelamente  na  Inglaterra,  constituem  as  duas  faces  de  um  mesmo  processo  :  a consolidação do regime capitalista moderno.

(SUNKEL,  Osvaldo. O marco histórico do processo desenvolvimento-subdesenvolvimento.  Rio de Janeiro: Fórum, 1971.  In:  Castro, Ana Maria;  Fernandes, Edmundo.  Introdução ao Pensamento Sociológico, São Paulo: Centauro, 2001).

HUBERMAN, Leo. A História da Riqueza do Homem. 21 ed. Rio de Janeiro: Guanabara.1999.

A leitura do capítulo 13 (A velha ordem mudou ) sobre a Revolução Francesa e do capítulo 16 ( A semente que  semeais  outro  colhe)  sobre  a  Revolução  Industrial  é  importante  para  entender  os  acontecimentos  do século XVIII.

MARTINS, Carlos R. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1984 (Coleção Os primeiros Passos)

A leitura do primeiro capítulo: O surgimento da Sociologia

O NOME DA ROSA

Título Original:   Der name der rose

País/Ano:   ITA/FRA/ALE – 1986

Direção:   Jean Jacques Arnaud

Elenco:   Sean Connery; Christian Slater.

Duração:   130 min.

Adaptação  do  romance  do  escritor  italiano,  Umberto  Eco.  Trata-se  de  uma  trama  ambientada  no século XIII. A partir das investigações feitas de uma série de mortes misteriosas em um mosteiro dominicano por  um  frade  franciscano,  são  levantadas  algumas  questões  centrais  que  caracterizam  a  Idade  Média  :  a relação  entre  religião,  filosofia  e  ciência,  a  atitude  intolerante  da  ala   mais  ortodoxa  da  Igreja  diante  das divergências, a questão das heresias, o processo da Inquisição.

EM NOME DE DEUS

Título Original:   Stealing Heaven

País/Ano:   ING/IUG – 1988

Direção:   Clive Donner

Elenco:   Derek de Lint; Kim Thomson.

Duração:   105 min.

Filme que  se passa  no século XII e enfoca o romance de  Abelardo e Heloisa[9]. Retrata o clima das discussões filosóficas e mostra o ambiente universitário da Universidade de Paris na época em que Abelardo lecionou e viveu o dramático romance com Heloisa.

GIORDANO BRUNO

Título Original:   Giordano Bruno

País / Ano :   ITA – 1973

Direção:   G. Montaldo

Elenco:    Gian Maria Volonté

Duração:   120 min.

Filme que retrata parte da vida de Giordano Bruno, envolvido com problemas com a Igreja devido às suas ideias. Mostra o processo movido pela Inquisição até a sua morte na fogueira[10].

DANTON – O PROCESSO DE REVOLUÇÃO

Título Original:   Danton

País / Ano:   FRA/POL – 1982

Direção:   Andrzej Wajda

Elenco:    Gerard Depardieu, Wojciech Pszoniak.

Duração:   131 min.

Visão da Revolução Francesa a partir da ótica liberal de Danton contra as posições mais radicais de Robespierre.

GERMINAL

Título Original:   Germinal

País / Ano :   FRA – 1993

Direção:   Claude Berri

Elenco:    Gérard Depardieu, Miou-Miou.

Duração:   132 min.

Etienne Lautrer, um jovem desempregado que se torna mineiro,  enfrenta uma verdadeira descida ao inferno. Em  Montsou, ele descobre a  miséria  e o alcoolismo, descobre também crápulas como Cheval ou homens  generosos  como  Toussaint  (Gerard  Depardieu):  uma  humanidade  inteira  em  estado  de  luta  e sofrimento[11].  Etienne  se  engaja  no  combate  contra  direção  das  minas.  Os  salários  caem  mais  ainda  e  uma greve se inicia. Em meio a uma confusão sórdida, ele encontra o amor de Catherine.

Bons Estudos

BIBLIOGRAFIA

BOTTOMORE, T. B. Introdução à Sociologia. 4 ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

BOUDON, R- BOURRICAUD, F. Dicionário Crítico de Sociologia. São Paulo: Ática,1993.

COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à ciência da Sociedade. São Paulo: Moderna,1997.

DURKHEIM, Emile. Sociologie et sciences sociales. Paris,1914.

FERNANDES, Florestan. Ensaios de Sociologia geral e Aplicada. 2 ed. São Paulo: Pioneira.

LEMOS  FILHO,  Arnaldo.  Ciências  Sociais  e  Processo  Histórico.  In:  Marcelino,  Nelson.  Introdução  às Ciências Sociais. 9 ed. Campinas: Papirus,1999. 

LOWI, Michel. Método Dialético e Teoria Política. Rio de Janeito: Paz e Terra,1975.

MARTINS, Carlos R. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense,1984.

QUINTANERO,Tânia. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: UFMG,1999.

RIBEIRO, Jr., João. Augusto Comte e o Positivismo. Campinas: Edicamp, 2003.

ROCHER, Guy. Sociologia Geral. Lisboa: Presença, 1970, 2ºvol.

TOMAZI, Nelson. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 1993.


[1] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.

[2] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.

[3] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.

[4] (DOC) AS CIÊNCIAS HUMANAS | mribeiro dasilvafilho – Academia.edu, https://www.academia.edu/32163503/AS_CI%C3%8ANCIAS_HUMANAS.

[5] sintese-da-história-da-filosofia-e_suasdiferentesvertentes.ppt, https://pt.slideshare.net/slideshow/sintese-da-historia-da-filosofia-e_suasdiferentesvertentes-ppt/271683729.

[6] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.

[7] ILUMINISMO – A razão em busca de liberdade ~ Filosofia – Blogger, https://filosofandoeestudando.blogspot.com/2018/12/iluminismo-razao-em-busca-de-liberdade.html.

[8] Revolução Industrial e o Surgimento da Sociologia, https://www.passeidireto.com/arquivo/69124846/revolucao-industrial-e-o-surgimento-da-sociologia.

[9] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.

[10] Filmes para aulas de Filosofia por temas e gêneros variados, https://cafecomsociologia.com/sugestoes-de-filmes-para-aulas-de-filosofia-por-temas/.

[11] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.

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