A SOCIOLOGIA COMO PRODUTO HISTÓRICO
In: LEMOS FILHO, Arnaldo et alli. Sociologia geral e do Direito. 2 ed. Campinas: Alínea
Vamos ver, neste texto, como que surgiu a ciência da sociedade, denominada Sociologia. O nosso raciocínio é o seguinte: se a Sociologia é uma ciência e se ciência é conhecimento, sabendo que todo conhecimento é um produto histórico, concluímos que a Sociologia é um produto histórico. O objetivo deste capítulo é saber como que, num determinado momento histórico, surgiu a Sociologia, ou seja, queremos saber quais os fatores históricos que propiciaram o nascimento da ciência da sociedade.
É costume dizer que a Sociologia é a “ciência da crise”. Não sendo obra de um único pensador, mas o resultado de circunstâncias históricas e contribuições intelectuais, ela surge, no contexto do conhecimento científico, como um corpo de ideias que se preocupou e ainda se preocupa, com o processo de formação e desenvolvimento do sistema capitalista.
Como veremos, sua origem mescla-se com os progressos sociais e econômicos que há muito vinham se constituindo na Europa, no campo da ciência e da tecnologia, da organização política, dos meios e processos de trabalho, das formas de propriedade da terra e dos instrumentos de produção, da distribuição do poder e da riqueza entre as classes, das tendências à secularização e racionalização que se mostravam em todas as áreas das atividades humanas.
Vamos fazer um primeiro corte histórico: SÉCULO XVIII
Este século foi palco de duas grandes revoluções: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. As transformações ocorridas, na estrutura econômica com a Revolução Industrial e na estrutura política com a Revolução Francesa, trouxeram crises e desordens na organização da sociedade, o que levou alguns pensadores a concentrarem suas reflexões sobre as suas consequências.
Um segundo corte histórico é mais amplo: SÉCULOS XVI, XVII E XVIII
Podemos considerar este período como um momento de grandes transformações sociais, políticas e econômicas, o que significa um período de transição de uma perspectiva filosófica para uma perspectiva científica da sociedade.
A FILOSOFIA SOCIAL: Idade Antiga e Idade Média
Na Antiguidade e durante a Idade Média, as tentativas de explicações da sociedade foram muito influenciadas pela filosofia e pela religião que propunham normas para melhorar a sociedade de acordo com seus princípios.
A preocupação dos pensadores, em relação aos fenômenos sociais, nestes períodos, era mais filosófica do que cientifica. Embora sua atenção fosse despertada pelas causas econômicas e políticas que abalavam continuamente as estruturas sociais de seu tempo, em lugar de tomarem uma atitude objetiva diante dos problemas apresentados, levados por razão de ordem prática, preocupavam-se mais em descobrir os remédios que trouxessem uma solução para as crises sociais.
Os estudos a respeito da vida social tinham sempre por objetivo propor formas ideais de organização da sociedade, mais do que lhe compreender a organização real. Assumiam, portanto, um ponto de vista normativo, no sentido de buscarem estabelecer normas ou regras para a vida social e finalista, no sentido de proporem como finalidade da vida social a realização desta organização social.
Florestan Fernandes lembra que mesmo as filosofias greco-romanas e medievais que deram relevo especial à reflexão sistemática sobre a natureza humana e a organização das sociedades, contrastam singularmente com a explicação cientifica. É que “elas tinham, com efeito, por objetivo, não explicar a sociedades tais quais elas foram, mas indagar o que as sociedades devem ser, como elas devem organizar-se para serem tão perfeitas quanto possível” (Durkheim, 1914).
NA ANTIGUIDADE, as primeiras tentativas de estudo sistemático, feitas sobre a sociedade humana, começaram com os filósofos gregos Platão (427-347 a.c.), em seu livro República e Aristóteles (384-322 a.c.), com a obra Política.
É de Aristóteles a afirmação de que O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL (zoon politikon). Estes estudos eram fragmentários e se limitavam a reflexões esparsas a respeito de algumas questões sociais, nunca reunidos, entretanto, num sistema coerente.
O fator político sob o domínio de um interesse puramente ético tinha prioridade sobre o fator social. Isto significava que os pensadores antigos, não tomando a própria sociedade como objeto específico de conhecimento, aprenderam como objeto essencial de estudo, uma parte da vida social, como a política ou a moral, mas numa perspectiva normativa e finalista.
NA IDADE MEDIA, a Igreja exerceu ampla influência, no plano cultural, traçando um quadro intelectual em que a fé cristã era a base de tudo. De acordo com a doutrina católica, a fé representava a ponte mais elevada das verdades reveladas. Assim toda investigação filosófica ou cientifica não poderia, de modo algum, contrariar as verdades estabelecidas pela Igreja Católica. Segundo esta orientação, os filósofos não precisavam se dedicar à busca da verdade, pois ela já havia sido revelada por Deus aos homens. Restava lhes, apenas, demonstrar racionalmente as verdades da fé. Santo Agostinho (354-430), por exemplo, na sua obra A Cidade de Deus achava que os homens viviam na cidade onde reinava o pecado e que deveriam caminhar para a cidade da graça, a cidade de Deus. Santo Tomás de Aquino (1227-1274) estudou as relações do homem com Deus, elaborando a filosofia cristã, a chamada filosofia escolástica, em sua obra A Suma Teológica.
A TRANSIÇÃO:- SÉCULO XVI, XVII, XVIII.
A libertação do pensamento, em relação ao dogmatismo católico, iniciou-se já no final da Idade Media, mas se efetivou realmente no período agitado do Renascimento, quando se abriram novas perspectivas ao saber humano.
A influência teológica, que não permitia ver as coisas senão à luz dominante da salvação eterna, deu lugar a uma perspectiva muito mais independente que favorecia a livre discussão de questões do ponto de vista racional. Foi sendo elaborado um novo tipo de conhecimento, caracterizado por uma objetividade e realismo que marcaram a separação nítida do pensamento do passado, modificação tão claramente definida que poderia dizer que um novo estágio se iniciava na explicação dos fenômenos da natureza e, consequentemente, dos problemas sociais e humanos.
A ciência vai, aos poucos, substituindo a filosofia, na explicação dos fenômenos da natureza, constituindo-se as denominadas “ciências naturais”. Estas se desprendem do tronco comum que era a filosofia, conseguindo delimitar seu campo de estudo com objetos específicos.
O período dos séculos XVI, XVII E XVIII, além de ser o momento do desenvolvimento das ciências naturais, deu oportunidade, devido a vários fatores, para que no século XIX, surgisse a Sociologia.
Para Florestan Fernandes, três series de convergências parecem responsáveis pela lenta, mas progressiva substituição da concepção normativa e especulativa por uma representação positiva da vida social: fatores de natureza sociocultural, fatores de natureza intelectual e fatores decorrentes da dinâmica do chamado “sistema de ciências” (Fernandes:1971).
Fatores socioculturais – Uma série de mudanças ocorridas na vida política e econômica da Europa, tais como a ascensão da burguesia, a formação do Estado Nacional, a Descoberta do Novo Mundo, a Revolução Comercial, a Reforma Protestante, culminando, no século XVIII, com a Revolução Industrial, contribuiu para modificar a mentalidade do homem europeu, significando a passagem do feudalismo para o capitalismo.
1 – A ASCENSÃO DA BURGUESIA rompeu com a formação social da Idade Media, constituída de sacerdotes, guerreiros e servos, apresentando um novo quadro social, com a emergência de uma nova classe social.
2 – A FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL fez com que se quebrasse o poder dos senhores feudais bem como trouxe conflito com a Igreja Católica[1].
3 – A DESCOBERTA DO NOVO MUNDO trouxe uma abertura para uma nova realidade, diferente do mundo europeu, com novos modos de pensar e de organização social.
4 – A REVOLUÇÃO COMERCIAL permitiu a formação de grandes potências nacionais e o desenvolvimento do mercantilismo.
5 – A REFORMA PROTESTANTE quebrou a unidade católica do ocidente, rompendo com a concepção passiva do homem, entregue unicamente os desígnios divinos.
6 – MAS FOI A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, no século XVIII, que definiu o desaparecimento da sociedade feudal e a consolidação da sociedade capitalista. Este processo, iniciado na Inglaterra, nos meados deste século, provocou transformações profundas na sociedade européia, tornando problemática a própria sociedade.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL trouxe mudanças na ordem tecnológica, pelo emprego intensivo e extensivo de um novo modo de produção com o uso da máquina; na ordem econômica, pela concentração de capitais, constituição de grandes empresas provocando acumulação de riquezas; e na ordem social, pela intensificação do êxodo rural e consequente processo de urbanização, desintegração de instituições e costumes, e introdução de novas formas de organização de vida social e, sobretudo, a emergência e a formação de um proletariado de massas com sua especifica consciência de classe (Lemos : 1999)
Fatores Intelectuais – Neste período – séculos XVI – XVII, e XVIII, houve também mudanças nas formas de pensar, nos modos de conhecer a natureza e a sociedade.
Já no final da Idade Média, houve o florescimento de utopias, descrições de sociedades ideais.
Thomas Morus, (1478-1535), em A Utopia, descreve uma ilha onde vive uma comunidade ideal, com harmonia, equilíbrio e virtude[2].
Outros autores, Jean Bodin (1530-1596), com a República, Francis Bacon (1561-1626), com a Nova Atlantis e Campanella (1568-1634), com a Cidade do Sol apresentaram os seus projetos de uma nova sociedade.
Campanella, mago e astrólogo, é considerado a última grande figura do Renascimento. Tinha como objetivo empreender uma verdadeira reforma universal. No seu livro, A Cidade do Sol, apresenta suas perspectivas e aspirações em relação à reforma do mundo, numa descrição da cidade ideal, recheada de misticismo, magia e utopia.
O RENASCIMENTO é o início de um movimento cultural que vai marcar as transformações da mentalidade social europeia. Inspirou-se no Humanismo, movimento de intelectuais que defendia o estudo da cultura greco-romana e o retorno a seus ideais de exaltação do homem.
O conhecimento deixa de ser revelado, como resultado de uma atividade de contemplação e fé, para voltar a ser o que era antes, entre gregos e romanos, o resultado de uma bem conduzida atividade mental.
Em lugar de uma supervalorização da fé cristã, do TEOCENTRISMO (Deus como centro), houve uma tendência social ANTROPOCÊNTRICA (homem como centro), valorizando a obra humana. Isso levou ao desenvolvimento de uma atividade laica (não religiosa), otimista em relação à capacidade da razão intervir no mundo, organizando a sociedade e aperfeiçoando a vida humana.
Mas o emprego sistemático da razão, como consequência de sua autonomia diante da fé, possibilitou a formulação de uma nova atitude intelectual, o racionalismo, não só em relação aos fenômenos da natureza, mas também em relação aos fenômenos humanos e sociais.
Algumas contribuições foram básicas:
Nicolau Maquiavel (1469-1527), por exemplo, iniciou uma nova fase do pensamento político ao abandonar o enfoque ético ou religioso e procurar uma abordagem mais realista da política. O centro de suas reflexões é o exercício do poder político pelo Estado. Em seu livro mais célebre, O Príncipe, ele desenvolve um realismo político, identificando as causas do sucesso ou do fracasso na manutenção do poder pelo governante. Para ele, as razões políticas estão completamente desvinculadas das razões morais. Assim, o recurso à força para conter a maldade humana, faz parte da lógica do poder político.
Francis Bacon, apresenta um novo método de conhecimento, baseado na experimentação, que tomava o lugar do conhecimento teológico. É considerado um dos fundadores do método indutivo de investigação cientifica, afirmando que o cientista deve se libertar daquilo que ele chamava de “ídolos”, isto é, as falsas noções, os preconceitos, os maus hábitos mentais.
Thomas Hobbes (1588-1679), com o Leviatã, sustenta a necessidade de um poder absoluto que mantenha os homens em sociedade e impeça que eles se destruam mutuamente.
Mas foi, sobretudo DESCARTES (1596-1650), com o método da dúvida, quem abalou, profundamente, o edifício do conhecimento estabelecido. Afirmava que para conhecermos a verdade é preciso, inicialmente, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para criteriosamente analisarmos se existe algo na realidade de que possamos ter certeza. Isto vinha de encontro a todo pensamento medieval, baseado na certeza da fé. Para Descartes, a dúvida permitiria a concluir que eu penso e se eu penso, eu existo (se eu duvido, eu penso; penso, logo existo)[3]. A única verdade totalmente livre da dúvida é que meus pensamentos existem e a existência desses pensamentos se confunde com a essência da minha própria existência, como ser pensante.
De um modo especial, a Filosofia da História foi um fator decisivo na formação das Ciências Sociais. Foram os filósofos da história que tiveram a responsabilidade por uma nova concepção de sociedade como algo mais do que uma sociedade política ou o Estado, possibilitando a distinção entre Estado e sociedade civil.
A ideia geral de progresso, que ajudaram a formular, influiu profundamente na concepção que o homem tinha da história e da sociedade.
Vico (1668/1774), em “Os princípios de uma Ciência Nova”, afirmava que é o homem que produz a história e que a sociedade poderia ser compreendida porque constitui obra dos próprios indivíduos[4].
Adam Ferguson (1723/1816), em Ensaio Histórico sobre a Sociedade Civil, discutiu a natureza da sociedade e de suas instituições.
Este interesse pela História e pelo desenvolvimento foi despertado pela rapidez e profundidade das transformações sociais e econômicas e também pelo contraste das culturas que as viagens dos descobrimentos revelaram. O acúmulo de informações sobre os costumes e instituições “exóticas” dos povos não europeus colocou a nu a extraordinária variedade das formas de organização social.
AO RENASCIMENTO SUCEDEU O ILUMINISMO.
O desenvolvimento do capitalismo, nos séculos XVII e XVIII, foi acompanhado pela crescente ascensão social da burguesia e sua tomada de consciência como classe social. O despertar da Revolução Industrial e o sucesso das ciências naturais valorizaram também a ideia de progresso. Na França, diante da situação social do país, resultado das contradições das classes sociais, os filósofos pretendiam não apenas transformar as formas de pensamento, mas a própria sociedade.
Afirmavam que, à luz da razão, é possível modificar a estrutura da velha sociedade feudal. Aos poucos, foi se desenvolvendo um pensamento que culminaria no movimento cultural do século XVIII, denominado Iluminismo, Ilustração ou Filosofia das Luzes.
Condorcet (1772-1794) queria aplicar os métodos matemáticos ao estudo dos fenômenos sociais.
Montesquieu (1689-1755), em O Espírito das Leis, defendia a separação dos poderes do Estado, em Legislativo, Executivo e Judiciário como forma de evitar abusos dos governantes e proteger as liberdades individuais[5]. Definia pela primeira vez a ideia geral de lei (uma relação necessária que decorre da natureza das coisas) e afirmava que os fenômenos políticos estavam sujeitos às leis naturais, invariáveis e necessárias, tanto quanto os fenômenos físicos.
Rousseau (1712-1778), em suas teorias de O Contrato Social, expunha a tese de que o soberano deve conduzir o Estado segundo a vontade geral de seu povo, sempre tendo em vista o atendimento do bem comum[6]. Sua obra teve uma influência decisiva na formação da democracia burguesa e, consequentemente, na mudança das instituições sociais.
Adam Smith (1723-1790) que criticou o mercantilismo, baseado na intervenção do Estado na vida econômica. Para ele, a economia deveria ser dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura de mercado. O trabalho, em geral, representava a verdadeira ponte de riqueza para as nações, devendo ser conduzido pela livre iniciativa dos particulares[7].
As teorias sociais do Iluminismo, no século XVIII, foram o início do pensar científico sobre a sociedade. Lançaram as bases para o movimento político pela legitimação do poder, fosse de caráter monárquico, como na Revolução Gloriosa da Inglaterra (1689), fosse de caráter republicano, como na Revolução Francesa (1789).
O sistema de ciências – A terceira série de fatores, também decisiva para a formação das ciências sociais, estava na própria dinâmica do “sistema de ciências”. A evolução das ciências estava diretamente ligada à necessidade de controlar a natureza e compreendê-la. As crises provocadas pelos acontecimentos sociais do século XVIII provocaram uma convicção de que os métodos das ciências da natureza deviam e podiam ser estendidos aos estudos das questões humanas e sociais e que os fenômenos sociais podiam ser classificados e medidos. No mundo moderno, o conhecimento científico se tornou o sistema dominante de concepção do mundo e, aos poucos, os fenômenos sociais também caíram sobre o seu domínio.
Estas três ordens de fatores nos mostram que, antes, as formas estabelecidas da vida social se revestiam de caráter sagrado: era como se o próprio Deus tivesse estabelecido as normas que deveriam reger as ações humanas, o que tornava estas normas, de certo modo, intocáveis. No mundo moderno, uma exigência geral de eficiência, no sentido de encontrar soluções para as crises e problemas provocados pelos novos acontecimentos, fez com que muitas formas de organização social, até então sagradas, passassem a ser vistas como produto histórico e sujeitas a transformações. Deste modo, a validade das normas e das formas de organização social, estabelecidas, deixa de ser vista como algo de absoluto e indiscutível.
Tal atitude secularizada, isto é, alheia às coisas sagradas, favoreceu a difusão de um espírito crítico e de objetividade diante dos fenômenos sociais (Lemos, 1999).
TEXTO COMPLEMENTAR
1. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A NOVA ORDEM SOCIAL
“A Revolução Industrial, realmente, é o marco de uma nova era da história da humanidade, pois deu início a uma etapa de acumulação crescente de população, bens e serviços, em caráter permanente e sistemático sem precedente. È inseparável do desenvolvimento por ser, fundamentalmente, uma revolução produtiva: uma revolução na capacidade de produção e de acumulação do homem.
Não se trata, apenas, do crescimento da atividade fabril. A Revolução Industrial é fenômeno muito mais amplo, constitui uma autêntica revolução social que se manifesta por transformações profundas da estrutura institucional, cultural, política e social.
A excepcional expansão experimentada pelas economias industriais, a partir da segunda metade do século XIX, tem seus antecedentes mais próximos no período de gestação e triunfo da Revolução Industrial que pode ser fixado, arbitrariamente, nos cem anos que vão dos meados do século XVIII até igual período do século XIX.
Um dos elementos essenciais na gestação das condições que possibilitaram a Revolução Industrial foi a acumulação de recursos financeiros proporcionada pela intensificação do comércio internacional e pela política mercantilista inglesa de épocas anteriores[8]. O enriquecimento e o fortalecimento dos grandes comerciantes e das empresas mercantis significou o advento de novo talento empresarial e de importantes recursos de capital na atividade manufatureira e na agricultura.
O capitalista comercial, originado na fase mercantilista anterior, foi levado a introduzir modificações substanciais na atividade manufatureira, ainda de natureza artesanal, doméstica e marcadamente rural: o capitalista-comerciante reorganiza o trabalho individual ou familiar que prevalecia nas oficinas ( os Workshops), onde reúne grupo importante de artesãos a que fornece matéria prima, energia mecânica, local de trabalho e organização de vendas.
Do ponto de vista da estrutura produtora, A Revolução Industrial acelerou a profunda transformação da atividade agrícola, principalmente pela introdução de novas técnicas que intensificaram o uso do solo e incorporaram novos recursos naturais ao cultivo. Como consequência, a produtividade inglesa aumentou substancialmente entre meados do século XVII e fins do século XVIII.
A Revolução Industrial traduz, também, em profunda transformação da estrutura da sociedade. Por exemplo, na reordenação da sociedade rural, com a destruição sistemática da servidão e da organização rural, centralizada na vila e na aldeia camponesa e a consequente emigração da população rural para os centros urbanos. A transmutação da atividade rural em manufatureira e, por último, em atividade fabril, deu margem, também, a profundas reformas que conduziram à criação do proletário urbano e do empresário capitalista: o primeiro, assalariado e sem acesso aos meios de produção: o segundo, com a função precípua de organizar a atividade produtiva na empresa.
A Revolução Industrial implicou, por isso mesmo, o fortalecimento e a ampliação de uma nova classe social que vinha sendo configurada em períodos anteriores sobre a base da atividade comercial e financeira; classe esta que passou a exercer consideravelmente influência na criação das condições institucionais e jurídicas indispensáveis ao seu próprio fortalecimento e expansão.
A Revolução Francesa é o fenômeno histórico que reflete com mais perfeição as aspirações e exigências da nova classe burguesa em consolidação. De fato, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial que ocorre paralelamente na Inglaterra, constituem as duas faces de um mesmo processo : a consolidação do regime capitalista moderno.
(SUNKEL, Osvaldo. O marco histórico do processo desenvolvimento-subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fórum, 1971. In: Castro, Ana Maria; Fernandes, Edmundo. Introdução ao Pensamento Sociológico, São Paulo: Centauro, 2001).
SUGESTÕES DE LEITURAS
HUBERMAN, Leo. A História da Riqueza do Homem. 21 ed. Rio de Janeiro: Guanabara.1999.
A leitura do capítulo 13 (A velha ordem mudou ) sobre a Revolução Francesa e do capítulo 16 ( A semente que semeais outro colhe) sobre a Revolução Industrial é importante para entender os acontecimentos do século XVIII.
MARTINS, Carlos R. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1984 (Coleção Os primeiros Passos)
A leitura do primeiro capítulo: O surgimento da Sociologia
SUGESTÕES DE FILMES
O NOME DA ROSA
Título Original: Der name der rose
País/Ano: ITA/FRA/ALE – 1986
Direção: Jean Jacques Arnaud
Elenco: Sean Connery; Christian Slater.
Duração: 130 min.
Adaptação do romance do escritor italiano, Umberto Eco. Trata-se de uma trama ambientada no século XIII. A partir das investigações feitas de uma série de mortes misteriosas em um mosteiro dominicano por um frade franciscano, são levantadas algumas questões centrais que caracterizam a Idade Média : a relação entre religião, filosofia e ciência, a atitude intolerante da ala mais ortodoxa da Igreja diante das divergências, a questão das heresias, o processo da Inquisição.
EM NOME DE DEUS
Título Original: Stealing Heaven
País/Ano: ING/IUG – 1988
Direção: Clive Donner
Elenco: Derek de Lint; Kim Thomson.
Duração: 105 min.
Filme que se passa no século XII e enfoca o romance de Abelardo e Heloisa[9]. Retrata o clima das discussões filosóficas e mostra o ambiente universitário da Universidade de Paris na época em que Abelardo lecionou e viveu o dramático romance com Heloisa.
GIORDANO BRUNO
Título Original: Giordano Bruno
País / Ano : ITA – 1973
Direção: G. Montaldo
Elenco: Gian Maria Volonté
Duração: 120 min.
Filme que retrata parte da vida de Giordano Bruno, envolvido com problemas com a Igreja devido às suas ideias. Mostra o processo movido pela Inquisição até a sua morte na fogueira[10].
DANTON – O PROCESSO DE REVOLUÇÃO
Título Original: Danton
País / Ano: FRA/POL – 1982
Direção: Andrzej Wajda
Elenco: Gerard Depardieu, Wojciech Pszoniak.
Duração: 131 min.
Visão da Revolução Francesa a partir da ótica liberal de Danton contra as posições mais radicais de Robespierre.
GERMINAL
Título Original: Germinal
País / Ano : FRA – 1993
Direção: Claude Berri
Elenco: Gérard Depardieu, Miou-Miou.
Duração: 132 min.
Etienne Lautrer, um jovem desempregado que se torna mineiro, enfrenta uma verdadeira descida ao inferno. Em Montsou, ele descobre a miséria e o alcoolismo, descobre também crápulas como Cheval ou homens generosos como Toussaint (Gerard Depardieu): uma humanidade inteira em estado de luta e sofrimento[11]. Etienne se engaja no combate contra direção das minas. Os salários caem mais ainda e uma greve se inicia. Em meio a uma confusão sórdida, ele encontra o amor de Catherine.
Bons Estudos
BIBLIOGRAFIA
BOTTOMORE, T. B. Introdução à Sociologia. 4 ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
BOUDON, R- BOURRICAUD, F. Dicionário Crítico de Sociologia. São Paulo: Ática,1993.
COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à ciência da Sociedade. São Paulo: Moderna,1997.
DURKHEIM, Emile. Sociologie et sciences sociales. Paris,1914.
FERNANDES, Florestan. Ensaios de Sociologia geral e Aplicada. 2 ed. São Paulo: Pioneira.
LEMOS FILHO, Arnaldo. Ciências Sociais e Processo Histórico. In: Marcelino, Nelson. Introdução às Ciências Sociais. 9 ed. Campinas: Papirus,1999.
LOWI, Michel. Método Dialético e Teoria Política. Rio de Janeito: Paz e Terra,1975.
MARTINS, Carlos R. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense,1984.
QUINTANERO,Tânia. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: UFMG,1999.
RIBEIRO, Jr., João. Augusto Comte e o Positivismo. Campinas: Edicamp, 2003.
ROCHER, Guy. Sociologia Geral. Lisboa: Presença, 1970, 2ºvol.
TOMAZI, Nelson. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 1993.
[1] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.
[2] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.
[3] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.
[4] (DOC) AS CIÊNCIAS HUMANAS | mribeiro dasilvafilho – Academia.edu, https://www.academia.edu/32163503/AS_CI%C3%8ANCIAS_HUMANAS.
[5] sintese-da-história-da-filosofia-e_suasdiferentesvertentes.ppt, https://pt.slideshare.net/slideshow/sintese-da-historia-da-filosofia-e_suasdiferentesvertentes-ppt/271683729.
[6] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.
[7] ILUMINISMO – A razão em busca de liberdade ~ Filosofia – Blogger, https://filosofandoeestudando.blogspot.com/2018/12/iluminismo-razao-em-busca-de-liberdade.html.
[8] Revolução Industrial e o Surgimento da Sociologia, https://www.passeidireto.com/arquivo/69124846/revolucao-industrial-e-o-surgimento-da-sociologia.
[9] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.
[10] Filmes para aulas de Filosofia por temas e gêneros variados, https://cafecomsociologia.com/sugestoes-de-filmes-para-aulas-de-filosofia-por-temas/.
[11] AS CIENCIAS HUMANAS – ARNALDO LEMOS – Sociologia – Passei Direto, https://www.passeidireto.com/arquivo/74928507/as-ciencias-humanas-arnaldo-lemos.
Pesquisa e compilação – Prof. Artur Cristiano Arantes
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