Andando pela mata, calmamente… A atenção voltada para a natureza, suas belezas, sua vida, seus sons. Os burburinhos do vento refrescante, a cantar no meu ouvido.
Como pode? Pergunto-me sempre. Esses homens, nós homens, desprezarmos este mundo natural, destruí-lo, depredarmos sem dó nem piedade. Como somos imbecis…
Lembro-me sempre de anos atrás quando ia passear na mata próxima que rodeava minha cidadezinha de interior. Ia sempre “armado” de minha máquina fotográfica e meu gravadorzinho a pilhas. Parava sempre junto a um grande pé de Jatobá, e pacientemente ficava ali sentado observando e aprendendo com a natureza. Os passarinhos alegremente voavam de um lado para outro, sem destino fixo. Quando tinha oportunidade, gravava seus cantos alegres, e muitas e muitas vezes, fotografava-os em suas poses simpáticas.
Sem medo de errar, posso dizer que eles eram meus amigos. As vezes tinha a sensação de que cantavam para mim. Com o tempo ficamos íntimos, minha presença não os assustava, não mudavam suas rotinas de ir e vir, de um lado para outro, cantando, brincando, trabalhando…
Fui testemunha de suas vidas, vi muitos deles nascerem, crescerem. Dei-lhes muitas vezes nome. Vi seus filhotinhos virem à vida no mesmo ninho de seus pais, vi-os criarem penas, voarem pela primeira vez. Alguns mais afoitos as vezes caiam do ninho e eu os recolocava em seu lugar. Gorjeando em meu redor, os mais velhos, sentia agradecimento em seus cantos. Ali era o paraíso!!!
Mas, como sempre, a vida tem um, mas, o tempo incontinente, nos manda para o futuro, e chegou o dia de ir para a fria cidade grande estudar. A despedida foi triste, abracei meu pé de Jatobá, e jurei prometendo, um dia, quem sabe, voltar…
Só muitos anos depois, já adulto, pude voltar. Voltar para ver meu pé de Jatobá, meus pássaros amigos. Senti o coração palpitar mais forte em meu peito, quando o velho trem parou naquela estaçãozinha interiorana, descolorida pelo tempo. Já não era o mesmo guarda-trem “seu Zé”, nem o mesmo velho chefe da estação “seu Tonho”. As pessoas pareciam outras, tudo estava diferente… Passei por todos rapidamente, com a pressa da cidade grande, e novamente “armado” do meu velho gravadorzinho a pilhas minha máquina fotográfica com os recursos da modernidade, fui, fui ao encontro dos meus velhos amigos queridos.
Oh! Meu Deus!
Que fizeram!!!
Meu pé de Jatobá, seco, queimado, sozinho no meio de um pasto. Só ele, velho e acabado, me esperou, resistiu. Toda a mata, vítima das motocerras desapareceu, em seu lugar, só capim, só gado, restou…
Passei a mão com carinho no tronco daquele gigante jatobaseiro de outrora, agora destruído, como um pedido de desculpas, por nós, homens, lamentei…
E ali recostado em seu tronco enegrecido, só com as lembranças do passado que me vinham a mente, nem sei por quanto tempo assim fiquei. Então, derrepente, uma pequena avezinha, que veio voando de longe, pousou em um de seus galhos retorcidos e sem vida. Levantei o olhar e o pequeno pássaro triste chegou mais perto, e com seu canto…, por mim e por todos nós…, comigo chorou…
Artur/Junho/89