Dos filhos do “Seu” Zé Pedreiro, lembro-me apenas que eram dois homens fortes, dispostos, e da profissão do pai, orgulhosos, pois dela fizeram também a sua.
De tijolo em tijolo, foram construindo suas vidas, orgulhosos de seu trabalho mal pago. Mas, o dinheiro não importava, sua satisfaço era maior. A de ver aquelas pequeninas peças de barro irem-se unindo, se juntando, por suas mãos habilidosas, e tomando forma. Forma de casas, prédios, escolas e hospitais.
E do dinheiro, sempre curtinho, tostões contados, consumidos em uma pinguinha ou outra, em uma roda de viola. Dinheiro era o que menos importava. Eles eram felizes, eles eram Francisco e Antonio, filhos de “Seu” Zé Pedreiro.
Cantavam:
“Vindos da Paraíba,
daquela Campina Grande, querida.
De uma casa pobre,
nos arrabaldes, perdida.
Casa da mãe, nunca esquecida.
Para eles, como castelo, erguida.
Fruto do amor, para abrigar a mãe,
de vida já tão sofrida…”
Eram irmãos, parceiros de trabalho e de farras.
Francisco. Ah!!! Falar de Francisco era falar de viola, viola de uma tocada sofrida, chorada, saudosa de casa, de sua terrinha querida. Antonio, era sério, mas, cantava ao lado do irmão, também suas mágoas da vida, com voz rouca e doida…
Dois que eram, mas, na soma um só; se completavam.
Da vida, só queriam viver, sinônimo muitas vezes de sofrer. Proibidos quase sempre de desfrutar do que construíram. Nem mesmo ver de perto, as vezes podiam. Mas, no orgulho de seus corações nordestinos, sentiam-se pais de suas obras. Eles eram pedreiros, os filhos de “Seu” Zé Pedreiro.
Porém, a vida, as vezes maldita, impediu Francisco de seu grande amor, disse não ao seu coração, mas, disse sim ao de Antonio, que um dia se casou.
Antonio, de mulher nova, dedicada e boa esposa, das farras, da cantoria, largou… E Francisco, sozinho, envelhecendo, a viola silenciou…
Um dia Antonio foi embora. Com mulher e cheio de filhos, para sua Paraíba voltou, o sonho da riqueza no tempo ficou. Francisco, a sua outra metade, a metade que ficou, na hora da despedida, bem na hora da partida, abraçou sua viola, abaixou a cabeça e chorou… Chorou a separação, chorou sua solidão…
O tempo passou… e passou…
E de Francisco e Antonio, ninguém mais falou, ninguém mais lembrou. Os orgulhosos filhos de “Seu” Zé Pedreiro, sumiram pela vida, só restou a lembrança daquela amizade bonita e a lição de suas vidas sofridas…
Artur/Maio/89