Andando a passos lentos pelas ruas sujas, lá vai, … “o Mendigo”.
De roupas sujas e rotas, pés descalços, corpo alquebrado, cabelos em desalinho. De rosto inchado pelo álcool, seu único alimento.
Sobrevivendo de pedidos de porta em porta, de restos de lixo, … sobras da sociedade.
Olhado com desprezo pelos adultos e com medo pelas crianças, lá vai ele, … “o Mendigo”.
A noite cobrindo-se de papelão, numa cama de jornais velhos,… Que pena!!!
Desalentado segue sua vida esperando o dia da morte chegar, com calma e paciência, dela; a vida; nada mais a esperar, nada mais a cobrar, nada mais a almejar. Só deixar passar, … passar os dias, … passar as noites, … e acordar olhando para o céu, … lamentando ainda estar vivo.
Dos motivos que o deixaram assim, ninguém sabe, só ele, ou talvez, … nem ele mesmo saiba mais. O coração já não “fala”, a mente já é algo que não tem memória.
Lá vai pelas ruas “o Mendigo”, … sujo e maltrapilho, carregando em um saco nas costas toda sua fortuna, toda sua riqueza, lá vai ele, … de coração ferido e entorpecido. Seu corpo desgastado, acabando-se aos poucos. Na memória nenhuma lembrança de ontem, na mente nenhuma esperança para amanhã.
Uma noite fria, uma manhã gelada, um corpo no chão sem vida. Vida que se extinguiu, como se vazasse pelos poros daquele corpo sofrido. E até na morte, o silêncio de como foi, sem ninguém ver, sem ninguém sentir, nem seus pares, vizinhos e companheiros de infortúnio.
Hoje apenas uma pequena cruz de madeira, mal-feita, enfeita uma cova solitária, sem nome, sem data, sem nada…
Ali jaz a dor sepultada….
Artur/Março/89