Nesta aula, trataremos de algumas características textuais importantíssimas para quem deseja elaborar textos de qualidade. São as chamadas “Características da Boa Linguagem”. Vamos a elas:
1. CLAREZA
É uma virtude essencial da comunicação, caracterizando-se pela nitidez de pensamento e pela simplicidade da forma. A clareza se evidencia na exposição límpida do pensar, sendo considerada clara aquela mensagem que não estabelece dúvidas sobre o seu sentido[1].
A clareza indica, como características opostas, a obscuridade e a ambiguidade, conhecidos vícios de linguagem .
Uma frase peca pela falta de clareza em razão de fatores diversos, entre eles a pontuação inadequada e a desorganização das ideias.
Quanto à pontuação, tanto o excesso quanto a falta geram o mesmo efeito nocivo ao texto. Por isso, além das regras gerais de pontuação, tenha os princípios norteadores do uso da vírgula na ponta da língua, para não cometer deslizes.
Por seu turno, a desorganização de ideias, problema comum nas peças processuais, pode ser significativamente controlada, dosando-se a quantidade de temas por trechos escritos. Evite “despejar” informações no leitor. O mais indicado, nesse caso, é desenvolver somente uma sentença ou afirmação por parágrafo, deixando a configuração da estrutura dissertativa, seja por meio de raciocínio dialético, seja por qualquer outra estrutura textual, para a relação criada entre os parágrafos, e não entre as frases de um mesmo trecho.
Além disso, há outros pequenos macetes dos quais você pode se utilizar para evitar prejuízos quanto à clareza de um texto, vamos a eles[2]:
“Corte” o que for irrelevante em relação ao conteúdo, para não o tornar desnecessariamente repetitivo, mas sim, que tenha acréscimos significativos[3].
Verifique se há uma sequência lógica quanto ao desenvolvimento de ideias.
Não fuja do assunto.
A melhor forma de dispor uma frase é confeccioná-la de forma linear e na ordem direta.
Não repita palavras, especialmente os conectores.
Procure palavras com o sentido adequado ao tema.
Siga a recomendação do eminente gramático Celso Cunha, que aqui reproduzimos[4]:
“SER CLARO É UMA GENTILEZA COM O LEITOR”
2. CORREÇÃO
A correção gramatical refere-se ao ato comunicativo que se põe de acordo com as normas gramaticais, com total respeito às normas linguísticas[5]. A correção se alcança com uma linguagem limpa e livre de vícios, o que permite aos receptores da mensagem uma imagem favorável do comunicador.
Entretanto, é preciso ter bom senso. Não há motivo para a utilização, nos textos do dia a dia ou até mesmo em uma peça processual, de herméticos termos ou expressões, que, inevitavelmente, dificultarão o bom entendimento[6].
3. CONCISÃO
“A concisão refere-se à objetividade e à justeza de sentido no ato de redigir.” (“Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity”)
Deve-se sempre evitar a prolixidade e a repetição de informações.
As frases muito longas, que também devem ser rechaçadas, são uma fonte de dubiedade extremamente prejudicial ao texto, em especial se o autor não tem, por exemplo, pleno domínio das regras de pontuação. Além do dano evidente quanto à apreensão do conteúdo, tais sentenças cansam o leitor, que pode interromper de pronto a leitura ou prossegui-la, mas com ressalvas[7].
O período precisa ser completo, mas sem excessos, devendo-se dizer tudo com o mínimo de palavras. Não há espaço para enrolação. A linguagem concisa e direta, sem rebuscamentos e artifícios dispensáveis, comunica melhor e denota amplo domínio da linguagem .
4. PRECISÃO
A precisão convém com a escolha do termo adequado, da palavra exata. A expressão precisa é fundamental para que o objetivo maior da comunicação seja alcançado – a transmissão da mensagem correta.
No entanto, a busca pelo termo mais apropriado exige riqueza de vocabulário e sensibilidade[8]. A utilização habitual de um dicionário de SINÔNIMOS e ANTÔNIMOS pode auxiliá-lo muito nesse processo, assim como a prática da leitura e da escrita, por meio de exercícios de sinonímia.
5. NATURALIDADE
A naturalidade é o atributo que caracteriza a escrita veiculada de modo simples, sem que se percebam o esforço da arte e a preocupação do estilo. Para alcançar a naturalidade, deve-se evitar o artificialismo na linguagem, que remete o emissor da rebuscada mensagem ao campo da linguagem obscura, com o emprego de expressões empoladas e de vocábulos inacessíveis para a maioria das pessoas.
6. NOBREZA
A nobreza é o atributo da linguagem que não é grosseira, nem indecorosa; aquela que não polui o texto.
A linguagem jurídica não dispensa o véu do pudor e do decoro, repudiando no texto escrito a presença de palavrões ou termos equivalentes, que só vêm atentar contra a qualidade do trabalho[9].
Muitas pessoas extrapolam o limite do bom senso e da boa educação. Uma peça processual não é o momento adequado para o indivíduo extravasar sua indignação de modo grosseiro[10].
Poderemos considerar “nobre” o texto que qualquer pessoa pode ler “sem censura”.
Aliás, é muito importante estar atento à utilização inapropriada da gíria: ela deve, em regra, ser evitada, salvo situações muito particulares e plenamente justificadas.
7. HARMONIA
“Esse atributo representa a prosa harmônica, que se caracteriza pela adequada escolha e disposição dos vocábulos, pelos períodos não muito longos e pela ausência de cacofonias.”[11]
O cacófato é o som desagradável ou o vocábulo de sentido ridículo, resultante da sequência das sílabas formadoras das palavras.
A harmonia, assim, é o componente musical da frase, e só a confecção cuidadosa dos períodos imprime ao texto o equilíbrio melódico e rítmico.
Em resumo, o texto harmônico é aquele cuja leitura dá prazer; portanto, insistimos: para aperfeiçoar a sua escrita, evite as cacofonias e a repetição vocabular, daí a importância dos exercícios com sinônimos e do uso do dicionário. (“Português Juridico – Vol. 52 – C – Saberes do Direito”)
Fonte:
SABBAG, Eduardo. Português Jurídico. São Paulo: Saraiva, 2012. (Coleção saberes do Direito)
[1] Vol. 52 – C – Saberes do Direito (1).pdf – PDFCOFFEE.COM, https://pdfcoffee.com/portugues-juridico-vol-52-c-saberes-do-direito-1pdf-pdf-free.html.
[2] Português Juridico – Vol. 52 – C – Saberes do Direito, https://www.passeidireto.com/arquivo/145544890/portugues-juridico-vol-52-c-saberes-do-direito.
[3] Vol. 52 – C – Saberes do Direito (1).pdf – PDFCOFFEE.COM, https://pdfcoffee.com/portugues-juridico-vol-52-c-saberes-do-direito-1pdf-pdf-free.html.
[4] Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity, https://www.docsity.com/pt/portugues-juridico-eduardo-sabbag/4891392/.
[5] Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity, https://www.docsity.com/pt/portugues-juridico-eduardo-sabbag/4891392/.
[6] Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity, https://www.docsity.com/pt/portugues-juridico-eduardo-sabbag/4891392/.
[7] Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity, https://www.docsity.com/pt/portugues-juridico-eduardo-sabbag/4891392/.
[8] Português Juridico – Vol. 52 – C – Saberes do Direito, https://www.passeidireto.com/arquivo/145544890/portugues-juridico-vol-52-c-saberes-do-direito.
[9] Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity, https://www.docsity.com/pt/portugues-juridico-eduardo-sabbag/4891392/.
[10] Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity, https://www.docsity.com/pt/portugues-juridico-eduardo-sabbag/4891392/.
[11] Português jurídico – Eduardo Sabbag – livro base para a … – Docsity, https://www.docsity.com/pt/portugues-juridico-eduardo-sabbag/4891392/.